Fiore era médico-legista do Instituto Médico-Legal (IML) de Taubaté e estava de licença médica do serviço público quando operou o sargento aposentado da PM Francisco Roberto Lopes, que na época tinha 58 anos e trabalhava como segurança da prefeitura havia 4 anos.
A cirurgia "de urgência" foi indicada por Fiore depois que Lopes machucou o ombro em uma queda durante uma partida de futebol. Ativo, ele passava horas praticando o esporte favorito - chegou a jogar no time da cidade.
Sem fazer exame extra nem ter ideia dos riscos da cirurgia, Lopes saiu da mesa cirúrgica após nove horas sem nenhum movimento nos membros superiores e inferiores. Os familiares questionaram Fiore, que enviou Lopes de volta para a mesa cirúrgica no dia seguinte para tentar reverter a situação. "Com fisioterapia ele volta a andar em oito meses", teria dito Fiore.
Lopes teve de ser operado novamente às pressas - dessa vez, a família viajou até São Paulo e a cirurgia corretiva foi feita pelo neurocirurgião Jorge Pagura. "Ele salvou a vida do meu pai", diz a filha Silvia Helena Lopes.
Após a cirurgia, a família registrou um boletim de ocorrência contra Fiore e o hospital. Por ele ser funcionário da polícia científica, foi aberto um procedimento administrativo na Secretaria da Segurança Pública, que resultou em sua demissão, publicada em agosto de 2010 no Diário Oficial do Estado.
O laudo da perícia técnica afirmou que "a tetraplegia instalou-se em decorrência do primeiro ato cirúrgico" e que Lopes "sofreu um trauma medular por falta de habilidade do cirurgião, caracterizando uma lesão corporal de natureza gravíssima".
Em outro documento foi apontado que houve negligência, imperícia e imprudência por "falta de aptidão para desempenhar a cirurgia" e "a soltura da placa caracteriza falha técnica."
Lopes conversou com o Estado deitado em sua cama adaptada. Ele faz fisioterapia três vezes por semana e conta com os quatro filhos e a mulher para se alimentar, tomar banho e se divertir.
Segundo Marina de Oliveira Lopes, de 61, mulher de Lopes, a família entrou com duas ações contra Fiore: uma cível e outra criminal. Na cível, a família pediu uma indenização de R$ 500 mil e o pagamento de uma pensão vitalícia de oito salários mínimos por mês para manter as despesas do tratamento. Ainda aguarda o resultado do laudo técnico, feito em 2009 no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc).
A ação criminal está no Tribunal de Justiça de São Paulo - Lopes perdeu em primeira instância "por falta de provas."
Questionado sobre a demissão durante o intervalo do julgamento, Fiore disse que não poderia falar sobre esse assunto. "Só posso te dizer que a gente está corrigindo isso."
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